Cair Paravel  

Posted by [The]Lirium

ㅤ ㅤRodeada de árvores num mundo estranho, fui acariciada pela brisa quente de verão que rumava para o norte. Em busca do duvidoso, cantarolando uma melodia inaudível aos meus próprios ouvidos parei em frente à imensa foz do Grande Rio, donde as torres brancas que se perdem ao chocar-se com o imenso azul do céu foram-me vistas de longe.

As pétalas de rosa que faziam às vezes de véu empurraram-me para um hall estranho, intenso demais aos meus olhos. Magnífico!
ㅤ ㅤE nessa hora, descobri que dentro das mesmas paredes onde jazia meu corpo ofegante, havia um ser imperial...
ㅤ ㅤO qual eu deveria fazer tudo que minhas mãos pudessem ou não fazer, para ele.
E lá, onde os reis dormem num sono profundo, onde ninguém pode os acordar, onde o sono é velado por Adão e Eva e onde a noite há de chegar, eu A vi.
A luz ofuscava todo o resto.
As paredes decoradas com artigos medievais já não chamavam minha atenção...
Nem mais me atraia o comprido tapete vermelho.
Pois do outro lado dele...
ㅤ ㅤEstava ela.
E num ímpeto, balbuciei sem mesmo pensar... Dama de safira!
Pois sim. Seus cabelos de tom azul-esverdeado fizeram meus olhos brilhar. Eles dançavam com o fino vento do oceano que entrava pelas enormes janelas de ouro.
Sem medo, ela deu o primeiro passo para o meu lado.
Meu coração apertou, e batia mais rápido que os tambores dos faunos.
ㅤ ㅤE então, ela sorriu e me disse:
- Filha de Eva das terras longínquas de Sala Vazia, onde reina o eterno verão da Bela cidade de Guarda-Roupa. Que tal tomarmos uma xícara de chá?
ㅤ ㅤE foi o que fizemos.
Embaladas pela noite de Nárnia, da nossa Nárnia, adormecemos mirando as estrelas lá do céu, que refletiam nossos vestidos compridos e observavam os nossos sonhos, de longe.


Felicidades Paju. Pela eternidade!
ㅤ ㅤCom todo o carinho, Raio de Sol.


Larissa Tonin - [The]Lirium

Conhecendo a escritora, final.  

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O passar dos anos abriu brechas na construção dos meus pensamentos. O passar dos amigos, a ida deles para outras cidades, ou apenas para além dos meus olhos. E foi assim por alguns anos... E nesse momento eu mudei completamente o meu pensamento, pois tudo era realmente... Novo.
E hoje eu escrevo textos enormes. Passo para o papel o que eu penso e sinto em determinados momentos... Escrevo livros.

Como Carlos Drummond de Andrade disse uma vez, eu repito agora:

“... Foi aí que nasci. De repente nasci, isto é, senti necessidade de escrever...”

E se hoje me perguntassem se eu me arrependo de algo, eu diria incansavelmente milhares e milhares de vezes que não.

E se me fosse questionado... Sim, eu o daria de novo. O primeiro passo.

Larissa Tonin - [The]Lirium

Conhecendo a escritora, segunda parte.  

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... Aquele pedaço do paraíso, comumente denominado Jardim de Infância, ainda povoa boa parte das minhas lembranças. Existe na memória aquele cheiro que só sentíamos na hora do lanche... Denso. E os variados cheiros da sala de aula, da cola esparramada por toda a carteira colorida, melecando tanto o meu lado, quanto o dos colegas. cheiro de verniz quase imperceptível das cadeirinhas que só naquela época cabíamos, e também o cheiro da massinha de modelar. O cheiro e a maciez. Na verdade, o cheiro, a maciez e o gosto também.


Nós cantávamos, dançávamos, sorríamos. E tudo isso ainda era um pedacinho a mais de tijolo para a construção de novas paredes. A saída de lá, chamarei de cimento. Pois foi a nova fase de petrificação de tudo o que eu havia aprendido, e é aquilo que não há como esquecer.


Larissa Tonin - [The]Lirium

Prelúdio: Conhecendo a escritora, primeira parte.  

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No fundo eu já sabia que ao dar um passo à frente, todas as paredes construídas ao passar dos meus poucos anos de idade se cristalizariam. Sabia também que os próximos a se cristalizar seriam os sonhos, pois no futuro só existiriam metas. E assim mesmo, eu dei aquele passo.

Existem lembranças daquele tempo em mim. Aquela espécie de que só tenta esquecer quem quer, e mesmo assim, não o tem por feito no final.

Larissa Tonin - [The]Lirium

Magníloquo  

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E sentada no círculo de pedra,

sendo acariciada pelos raros raios solares naquela tarde de inverno,

Ela O sentiu.

Não soube descrever exatamente o que era. O fato é que sua presença foi notada.

E num súbito açoite do vento, ele a chamou com a força da floresta...

A plantação de milho chacoalhava-se rumo à estreita fenda de sombras

Ela sorriu fitando a paisagem.

E da cabeleira da terra, embalada pela mesma brisa, houve um sinal.

Os animais que antes pastavam, rumaram pelo caminho escolhido

- Se você me quer, dê-me outro sinal... – Segredou

E então um grupo de pássaros voou sobre sua cabeça antes repousada.

Convencida, ela se levantou...

Em busca do desconhecido, da aventura, do término.

E quando atravessava ao lado da casinha de madeira, ela parou.

- Devo mesmo prosseguir?

De algum lugar dos céus, uma linda borboleta branca surgiu rodopiando em torno do seu corpo, conduzindo seu olhar para o lado oposto ao dele.

“Se você quer paz, retorne”

E foi o que ela fez sem hesitar, abandonando o caminho de sombras, correu até o circulo de pedra, e se deitou, fitando todo o resto, e o infinito azul do céu com suas pequenas plumas em formato de algodão presas lá no topo, que moviam-se... Moviam-se de acordo com o resto... Ainda para a fenda...

Mas então...

E então...

Adormeci.


Baseado em fatos reais.

Larissa Tonin - [The]Lirium


Borboletas amarelas  

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“Os soluços de um choro convulso ecoavam pelo corredor estreito do museu de robôs. A menina debulhava-se em lágrimas, aprisionando um de seus companheiros de metal contra o peito...”

Notas que choram suave[mente]

Alucin[ação]

[Chega]da

Torne-me indispensável para você.

Larissa Tonin - [The]Lirium

Do livro  

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"... E então saiu correndo.

Não sentia mais o chão abaixo dos pés... Já não ouvia mais nada. Chorava com tanta força que já não sabia se estava respirando.

Ela ofegava, e seu coração batia rápido demais, pensou até que desmaiaria ali mesmo. Mas de alguma maneira ainda tinha forças para correr aquele mundo inteiro. Tinha uma imensidão verde pela frente, e ela não tinha horário para parar.

Suas lágrimas eram jogadas pelos seus olhos, e voavam com o vento.

... Mal voltou a respirar, quando virou para frente e notou que o tempo todo estava correndo em direção a um abismo.

Suas pernas tremeram, seu corpo ficou rígido, e numa fração de segundos ela conseguiu frear. Ouviu os cascalhos de pedra caindo e fazendo um som oco nas laterais do precipício. O sangue pulsava em suas veias.

Uma gota de suor escorregou pela testa até o queixo e caiu..."

De "Onde os sonhos têm vez - Larissa Tonin" - [The]Lirium


O gotejar nas folhas de pedra  

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Lá fora chove.
Limpando a dor, o rancor, o pavor
Limpando a frustração da canção não cantada
E o riso engasgado da piada que não foi contada
Limpa a cobiça, a demência e dissimula
que logo quando parar a chuva
O chão não estará imundo do tudo
Emudecendo o que já é mudo
Cegando o que nunca se viu
Embarrando as ruas, e não de anil
Sujando-nos...
Sujando-nos outra vez.


Larissa Tonin - [The]Lirium

Um lugar escarlate  

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E como a brisa que serpenteia a floresta escarlate

E como a ardente tempestade de neve

E como os pássaros que cantam as mais lindas melodias

É como o coração que volta bater.

E igual ao sorriso que se torna verdadeiro, depois de tanto tempo...

E se não soubéssemos quem somos,

Isso nos impediria de tentar descobrir?

Eu não te conheço como deveria...

E você? Me conhece?

Como me vê? De que maneira?

Mas isso realmente não importa...

Dou-lhe o direito de me chamar do que quiser.

E como quiser...

Cantado.

Exclamado.

Sussurrado.

O que nasceu entre nós é como o imenso céu, vívido, que abriga todo o resto,

Com sua afável aparência materna, eterna...

Sorria!

Pois quando o fizer, terá a eterna certeza de que estarei a sorrir também.

Para você, Renata, um floco do meu carinho.

Larissa Tonin - [The]Lirium

Dançando com sombras  

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As folhas secas de outono caem.

Assim como barquinhos de papel flutuam pelas poças d’água.

Não há violinos, nem bandolins...
Não há harpas, nem flautas...

Mas os pássaros cantam,

Assim como o suave sussurro do vento sobre aqueles corpos,

-Agora distantes-


Nomes esquecidos.

E as flores presenteadas murcharam há muito tempo.

Mas existe a lembrança das glórias passadas e das incontáveis derrotas.

A gigantesca águia

A floresta escarlate

As folhas em branco

E a história que jamais será escrita como deveria.


As folhas congeladas pelo inverno morreram.

Assim como esse conto, tiveram um fim.

Ele se transformou em faíscas que brilham com as estrelas...


Uma nota de harpa é tocada.

Por quem?

Por quê?

Para quem?

Oh, Cavaleiro!

-Há silêncio-

E restou apenas o som daquele coração batendo sozinho.



Larissa Tonin - [The]Lirium