Faço das palavras do seu poeta preferido, as minhas aqui, e agora:
Acorda, minha donzela!
Foi-se a lua – eis a manhã
E nos céus da primavera
A aurora é tua irmã!*
Era mais um daqueles dias gelados.
Estávamos dentro da sala onde permanecemos por horas e horas sem movimentarmos os músculos. Apenas os braços. Na verdade, se for possível, apenas os dedos.
Conversávamos sobre um livro, uma xícara, um estilo, balões, um porta-malas, e o presente.
O fato é que em meio àquela conversa, e navegando pelos mares e marés cibernéticos, deparamo-nos com uma página que transbordava a utopia que nos poderia ser transformada no mais lindo sonho real.
Quem imaginou que em algum dia, as pessoas poderiam escolher entre as infinitas estrelas lá do céu, e à escolhida dar o nome que quisesse?
Garanto que não al-Farghani.
Que diria Khayyam? E Ptolomeu?
Quanto mais eu.
- Caramba! – Foi o que eu disse.
E ela sorriu.
- Legal né?
O nosso plano era fazê-lo, mas cada uma ao seu Pierrot.
Saltitei pela sala, deliberadamente sorrindo...
“Mas que desgraça!” Pensei comigo.
Pagava-se um preço alto pelo feito, e eu não sabia se a escolha que eu faria seria a correta.
Pois pensei novamente: A primeira pessoa a quem daria o nome a uma estrela, seria o dela. Não ria disso, por mais que soe engraçado, e que você tenha me dito ainda hoje que irmãos não falam aos irmãos o que realmente pensam sobre eles [quando o que pensam é uma coisa boa] Pois dá vergonha e é assim que deve ser... Ora essa, já falei tantas coisas para você, tantas e tantas... Se me fosse possível, dar-te-ia um saquinho fundo, para que nesse pudessem ser guardadas todas as palavras que saíssem da minha boca ou dos meus dedos, sem risco algum de perder. Seria mais prático, e você jamais se esqueceria do meu sentimento.
O fato é: O que eu mais queria era dar um presente que:
1. Fosse lembrado sempre;
2. E pudesse brilhar sempre;
3. Transmitisse entusiasmo;
4. Semeasse criatividade;
5. Derramasse lágrimas de felicidade;
6. E que a cada vez que ela olhasse para o céu, tivesse a certeza de que quando a noite chegasse, haveria algo para ela lá em cima, pregado junto à escuridão plena, mas que sorria, sorria como um anjo, observando-a... E esse algo teria o seu nome.
E conto aqui um segredo:
... Servir-me-ia de consolo, quando não mais acordasse e a visse de pijama-de-oncinha-com-cabelo-bagunçado-e-cara-amassada tomando uma xícara de café sentada na cadeira-de-madeira a estudar sobre Piaget, Freud, Vygotsky, Skinner e toda Psique.
E então seria eu a esperar pela noite vindoura, que traria uma Carolina brilhante que ofuscaria todas as outras, naquela mesma escuridão plena. E seria a mim dado o sorriso, o sorriso de um anjo, observando-me. Seria ela.
Pois eu a amo.
É ela! É ela! Meu amor, minh’alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! É ela! – murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou – É ela! - *
Pois nossa irmandade é como um plano.
Uma não funciona direito se a outra não está por perto.
Talvez sejam os laços pelo sangue. Desde o uso do mesmo corpo ao nascer, até os mesmos cuidados ao crescer.
Mas o que eu posso realmente dar-te a certeza, leitor, e que é de grande valia se você topar com ela pelas ruas ou becos, é a de dar-te um presente.
Nada de acácias
Camélias
Azáleas
Nada de Anis, copos-de-leite, margaridas
Violetas
Amarílis e gardênias
Dê lírios para a Morte, e ela sorrirá para você.
(*) Álvares de Azevedo