São 11:01 da manhã, acabei de acordar.
Na visão dele, eu deveria ter acordado cedo, bem cedo, para ir caminhar com a Morte, e alongar os músculos. Ele disse que eu me sentiria bem, disse sim. Afinal é bem complicado ter a mulher que ama tendo disparos no coração toda vez que dá um simples sorriso. Certo, com apenas um sorriso não. Mas cantando uma música, sim. E justo cantando... O que a deixa tão livre, livre, leve e livre. A vida é mesmo uma ironia só.
E por mais que eu talvez quisesse sair para tomar o ar da paisagem congelada pela serração e neblina, eu não fui. Resolver ficar debaixo de um metro de cobertas, a sair no cinza, estando 9°C pelo Climatempo, com 96% de umidade e vento a 19 km/h, nunca me pareceu ser tão certo.
Talvez por imaginar que as cobertas felpudas fossem um abraço escondido, quente, e macio... Sincero. Talvez fosse isso, mas seria errado permanecer ali, protegida, enquanto ele está tão longe enfrentando outros mundos. Embora ele tenha optado por isso.
Agora são 11:11, eu fiz um pedido. A Morte sempre me avisa quando a hora e os minutos estão como num espelho, iguais dos dois lados... Ela afirma que se pode fazer um pedido, qualquer um, mas tem que ser nesse um minuto de pura compatibilidade entre os números, se não, não funciona. Provavelmente alguém se interessou pelo o que eu desejei, ou está cochichando para o próprio nariz: “Maluca!” “Maluca!”.
Ora, não minta para si mesmo, é feio.
Afinal, eu ainda não sou maluca.
Se desejar saber o que desejei, aqui está uma mensagem para você: “Nada que possas ver que já não esteja a mostra.” Basta decifrar.
O fato, é que ele sempre esteve nos meus pedidos anteriores.
*Morte, você mentiu para mim ao dizer que se eu pedisse algo, esse “algo” se realizaria? ...Provavelmente não.
Como o próprio-ser-por-quem-desejo-tudo citou ao falar sobre futuros distantes com dias e anos contados e um amor para a vida toda: “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor... E talvez, amor, eu não esteja desejando ficar contigo com o máximo do meu ser, caso contrario, eu desistiria de tudo: Da casa, da família, da faculdade...” Mas é claro como cristal, que eu não o deixaria fazer isso. Trocar uma vida por outra, trocar até duas, talvez. Mas um sonho... O sonho dele... “Um dia irá sentar-se naquelas poltronas almofadadas e me olhar de lá, mirar o palco, e me ver encenar” Oh, passo a crer que a Colombina nessa historia é você. Sou eu seu Pierrot, e o tempo meu Arlequim...
Não era essa a Peça que eu queria assistir. Porque me obrigam a assisti-la? Por quê? Porque me obrigam a senti-la? Porque roubam minhas lágrimas? Elas são preciosas para serem jogadas fora pela tristeza... Deveriam, oh sim, deveriam ser tomadas pela alegria que eu sentiria quando o visse, novamente, naquele corredor escuro, donde o sol projetava-se nos seus longos cabelos ondulados. Quem me dera vivesse novamente aquele momento em que meu coração já não fazia mais parte de mim, já era dele... Era dele...
Por que me obrigam? CÉUS! POR QUE ME OBRIGAM A SENTIR ISSO? É cruel! Dói, e mata! Sangra... Sangro...
... Mas eu não me perderei no tempo. Afinal, não somos bonecos dele. Embora não saibamos disso.
11:51.
Não sei exatamente o que fazer. A razão me diz uma coisa, e a emoção grita e esperneia outra. Será possível que não sinta mais meu coração? Aquele mesmo que, em apenas um cantarolar, disparava para fora de mim? ... Às vezes acredito que dei realmente meu coração para ele. Será que não? Será mesmo que não?
Isso eu não posso saber. Nem essas olheiras fundas e arroxeadas, que estiveram presentes em todo o acontecido podem responder. Eu sou um fantoche de mim mesma. O que fará Larissa? O que fará consigo mesma?
Esperará rezando pelo dia em que, em um barzinho lotado pela chuva que estronda e derruba tudo lá fora, você olhará para a porta que balança um sininho avisando um novo cliente, e o veja? Com os cabelos caindo pelas costas, tremendo de tanto frio, e ansiando por uma xícara de café... Será você o liquido que o esquentará por dentro? E assim sendo, será você que o aquecerá pela vida toda?
Eu espero rezando aos céus que sim.
E enquanto isso não acontece... Eu fico aqui, nessa sala fria, ouvindo as gotas da chuva que já não cai. Querendo voltar para a cama e não sair mais de lá. Porque não posso? Porque me impede?
Aqui estou, com o choro na garganta, e nos olhos, olhando para o meu status. Sentindo que já não é daquele modo, e de que nada adianta deixá-lo ali, se não para me rasgar ainda mais por dentro. E é como dizem “O que os olhos não vêem o coração não sente”, e embora eu queira acreditar nisso... Não é a merda de um status que vai modificar alguma coisa na minha vida. Eu ainda o tenho na mente. Digo na mente, pois como afirmei, meu coração já não é meu. E sabe por que, leitor? Sabe por que, eu mesma (que estou lendo pela milésima vez esse texto)?... Porque EU O AMO com toda a força que me foi dada sabe-se lá por quem.
Agora são 12:04, chorando, eu digito as ultimas palavras desse pequeno texto. Confusa como sempre, mas aliviada... Aliviada como nem em uma noite de sono pesada consegui ficar. Finalmente aliviada. Ainda amando.
Am[ando].
Larissa Tonin - [The]Lirium
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on quarta-feira, 12 de maio de 2010
at quarta-feira, maio 12, 2010
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5 Murmúrio[s]
Somos fortes como um escudo medieval, para sempre, IRMÃ.
12 de maio de 2010 às 07:27
13/05/2010
02:12
12 de maio de 2010 às 22:45
lindo texto.. e vários trechos se encaixam a mim também. seja forte pequena <3
14 de maio de 2010 às 16:32
Quando se ama, existe a completa entrega e a completa negacao da liberdade.
Amar eh desligar-se de uma parte do seu, e construir uma parte do outro no teu
18 de maio de 2010 às 21:45
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A alma
- [The]Lirium
- Na escuridão ela tem um milhão de amigos... A música toca e, isso nunca acaba. Ela sonha... Sonha.