Um conto medieval, parte Três  

Posted by [The]Lirium

"...Aqueles olhos brilharam uma única vez ao fitar ao longe a Floresta de Esmeraldas, mostrando em um único relance todo o poder daquele espírito, agora ferido como nunca. Nunca havia se sentido tão confuso, sem saber agir, sem saber pensar. Ela estava ferida... Mas por quê? Por que não esperou sua ajuda e não deu a ele sequer um segundo para o auxílio? ... Toda aquela força se desfez, não pôde dar um passo sem que todos os temores que ele tão habilmente afastara durante toda a vida o assaltassem de uma só vez. Por instantes ele apenas observou o embrulho em suas mãos, manchado daquele liquido tão puro. Aquelas manchas leves no chão, que pesavam seu coração como nada antes o fizera... Seus olhos se encheram então da antiga chama, uma força que o consumiria em breve, mas que agora serviria ao propósito de seu coração, pois essa era sua natureza: Agir.

Sem que ninguém empurrasse, a porta a sua frente se abriu e seu corpo deslizou pelo ar. Um movimento impossível de acompanhar... “Tenho que descobrir... Tenho de saber o porquê!" Com o pacote apertado em seu peito ele saiu, noite a fora."

O frio intrépido acompanhado da densa neblina circundava as árvores da Floresta, que banhadas em gelo puro tilintavam a cada floco de neve que ousava cair sobre sua superfície, ameaçando estilhaçar-se a qualquer segundo.

As botas da jovem amassavam a neve que se dissipava com qualquer toque, formando buracos enormes que sugavam suas pernas até a altura dos joelhos, atrasando-a em sua fuga. Ela chorava baixinho, execrando-se por dentro, pois queria ter permanecido a cantar histórias com seu alaúde e pífaro, sobre aventuras de dragões a deixar em chama aldeias e cidadelas. Ela desejava ser ouvida, para que as suas histórias jamais morressem.

Quando a margem de um rio cristalino brotou diante da escuridão gelada, a jovem adentrou-o, buscando pelo pequeno barco que ali deixara. Tomou em mãos seu remo e pôs-se a golpear a superfície da água, distanciando-se daquela cidade.

“ESPERA-ME!” Ecoou.

A jovem virou-se desesperadamente para saber quem a chamara. Das sombras surgiu o mesmo homem a quem presenteara.

“OH BARDA! É O PARAÍSO QUE PROCURAS? ESCUTA-ME... DEIXA-ME AJUDÁ-LA. DEIXA-ME SANAR A SUA DOR... A TUA HORA NÃO CHEGOU VISTO QUE NOSSOS DEUSES PERMANECEM CALADOS! ESPERA-ME! Espera-me...”

“Perdoa-me...” Sussurrou em resposta, em um tom inaudível banhando-se em lágrimas. A moça tomou em mãos o remo e arremessou-o na água. Tornando seu próprio retorno impossível.

“Há algo que você não sabe, Oh Viajante...

A minha estadia nesta Terra já excedeu seu limite.

Os dias que ainda vivo foram contados pelo Deus Maior.

Não pude andar ao teu lado nesta etapa.

Eu sei... Eu falhei.

Mas a sua jornada ainda continua.

Cante aos homens a minha história.

Torna-me imortal.

E assim um dia, encontrar-nos-emos no Paraíso

E cantaremos juntos, a história do Mundo...”

E coberto pela nevoa, o barco desapareceu. Mas ainda era possível ouvir notas de uma melodia conhecida... Cantava a barda, o seu ultimo suspiro na Terra.

[Continua]

Larissa Tonin - [The]Lirium e Daniel - Iluvatar

This entry was posted on sábado, 31 de julho de 2010 at sábado, julho 31, 2010 . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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